Reunião virtual entre os presidentes ocorreu no Palácio da Alvorada, com presença de ministros e em meio à sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou como “positiva” a videoconferência entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump, realizada nesta segunda-feira (6). O encontro virtual ocorreu às 10h30, no Palácio da Alvorada, em Brasília, e durou cerca de meia hora.
Haddad acompanhou Lula ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, do assessor especial Celso Amorim e dos ministros Mauro Vieira (Relações Internacionais) e Sidônio Palmeira (Secom). Portanto, segundo o ministro, o Palácio do Planalto divulgará uma nota oficial com os principais pontos discutidos entre os dois chefes de Estado.
“Recomendou a divulgação de uma nota. Nós combinamos que a nota vai ser a expressão. Foi positivo, mas o alerta vai sair pelo Palácio”, declarou Haddad ao chegar ao Ministério da Fazenda, pouco depois do término da reunião.
Além disso, a conversa, que vinha sendo articulada desde setembro, ocorreu em meio à tensão provocada pelo tarifaço imposto por Donald Trump. O governo norte-americano anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros em agosto, atingindo 36% das exportações enviadas aos Estados Unidos.
Relação diplomática sob cautela
De acordo com informações, a relação entre Lula e Trump exige cautela da diplomacia brasileira, especialmente após o republicano ter assumido a Casa Branca no fim de 2024. O Itamaraty vem conduzindo os contatos de forma discreta e estratégica, evitando atrito e buscando espaços de diálogo.
Diplomatas revelam que Trump adota posições instáveis, o que gera receio de recuo nas negociações. Assessores americanos próximos ao líder republicano teriam tentado dificultar a aproximação entre os dois governos.
Apesar das diferenças, Lula tem insistido na importância do diálogo. Durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente destacou que “a independência do Judiciário e a soberania do Brasil não são temas negociáveis”, mas reafirmou estar aberto para tratar de comércio e cooperação.
Em entrevistas, Lula declarou que “pintou uma química mesmo” com Trump e que “aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu”.
Primeiro passo antes do encontro presencial
O chanceler Mauro Vieira afirmou que Lula e Trump já tinham um contato combinado, e que a videoconferência representou um primeiro passo antes de uma possível reunião presencial.
Fontes do Planalto explicam que o governo brasileiro preferiu iniciar o diálogo virtualmente, para permitir que os líderes identificassem pontos de convergência e divergência nas negociações comerciais. A estratégia também busca estabelecer confiança entre os dois presidentes antes de uma agenda presencial.
Tarifaço e tensões políticas
O tarifaço de Trump foi aplicado de forma progressiva ao longo de 2025, culminando com o aumento de 50% nas tarifas a partir de agosto. O republicano justificou a medida com base em questões econômicas e políticas.
Segundo Trump, haveria um déficit comercial com o Brasil, o que não é confirmado por dados oficiais. Ele também mencionou preocupações com o processo judicial de Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe e outros crimes, além de citar “direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”.
Fontes próximas ao Itamaraty afirmam que o governo brasileiro enxerga motivações políticas claras por trás da decisão americana. No entanto, a equipe de Lula busca evitar o confronto direto e concentrar esforços em proteger o agronegócio e a indústria nacional.
Conversa estratégica
Durante o diálogo, Lula e Trump abordaram comércio, regulação de big techs e exploração de terras raras, temas de interesse norte-americano. O presidente brasileiro reforçou a necessidade de respeito mútuo e parceria equilibrada.
Segundo interlocutores, Trump demonstrou disposição para avançar, e o clima da conversa foi descrito como cordial e pragmático.
Fernando Haddad ressaltou que, apesar das divergências, a conversa abriu caminhos para futuras negociações. “Foi positivo”, repetiu o ministro, reforçando que a aproximação pode beneficiar as exportações brasileiras e estabilizar o ambiente econômico.
Expectativas e próximos passos
O Palácio do Planalto deve divulgar, ainda hoje, uma nota oficial detalhando os temas tratados. A diplomacia brasileira avalia que a reunião marca o início de uma fase de reaproximação, mesmo com o clima tenso causado pelo tarifaço.
Assessores do governo destacam que o Brasil mantém sua posição soberana, mas reconhece que o diálogo é essencial para preservar interesses econômicos e políticos.
Enquanto isso, empresários e representantes do agronegócio aguardam sinais concretos de avanço nas conversas. O mercado observa com atenção cada movimento entre Brasília e Washington.
Em meio à crise tarifária, a fala de Fernando Haddad resume o sentimento no governo: “Foi positivo”. Uma frase curta, mas que revela a esperança de reconstruir pontes entre dois líderes que, apesar das diferenças, entendem o peso estratégico dessa relação.