O discurso firme do prefeito expõe a distância entre cerimônias políticas, demandas urgentes da saúde e a pressão por eficiência regional.
Eu acompanhei atentamente a repercussão sobre o discurso do prefeito Gleidson Azevedo durante o Encontro de Consórcios, nesta terça-feira (18/11), em Divinópolis. Muitos enxergaram ataque, deselegância e desgaste político. Eu enxergo outra camada: a cobrança por eficiência que sempre aparece quando a estrutura pública se distancia do cotidiano real das cidades.
Eu convivo diariamente com as filas da saúde, as reclamações por exames, os pedidos por cirurgias e a pressão por respostas rápidas. Também vejo prefeitos, secretários e equipes técnicas cobrando, de todos os lados, decisões práticas que acelerem entregas. Quando esse cenário ganha força, encontros que não apresentam metas claras, prazos definidos ou retorno imediato começam a perder sentido. E isso explica o tom duro do prefeito.
O custo invisível dos eventos institucionais
Quando Gleidson mencionou “um milhão de reais parado ali”, ele não falou apenas de dinheiro. Ele falou de oportunidade. Cada hora de gestor fora da sua cidade custa. Cada deslocamento, cada diária, cada estrutura montada exige justificativa.
As prefeituras enfrentam prejuízos provocados pelas chuvas, reorganizam equipes de saúde e encaram uma demanda que aumentou mais do que a capacidade das redes municipais. Por isso, qualquer evento que não apresente resultados concretos vira ponto de tensão.
CISVI
E a cobrança sobre o CISVI segue a mesma linha. Eu sei que o consórcio nasceu para ampliar consultas, acelerar exames e reduzir a fila regional. Quando os números não acompanham o tamanho das expectativas, os prefeitos elevam o tom. Não por vaidade, mas por sobrevivência administrativa.
Portanto, o povo cobra. A imprensa cobra. As lideranças políticas cobram. E a sensação de “trabalhar no deserto”, como disse Gleidson, surge exatamente nessa hora: quando o discurso institucional não conversa com a urgência da população.
Gasoduto x Hospital Regional
O debate sobre o Gasoduto Centro-Oeste reforça essa desconexão. A obra tem importância técnica, econômica e estratégica. Ninguém discute isso. Mas a população mede prioridade pela régua da necessidade imediata. E hoje, essa régua aponta para o Hospital Regional.
Além disso, o prefeito, ao afirmar que “o povo quer o hospital”, verbalizou um sentimento comum entre gestores do Centro-Oeste: não adianta celebrar infraestrutura enquanto a saúde regional segue travada.
Eu observo outro ponto que muitos ignoraram no calor da repercussão: prefeitos também cansam. A rotina pública desgasta, atravessa madrugadas, coloca pressão e exige decisões impopulares.
Portanto, nem todo desabafo representa desprezo por instituições. Muitas vezes, representa saturação de quem tenta resolver problemas que atravessam mandatos, gestões e governos.
Além disso, a polêmica criada sobre o discurso do prefeito não atinge o centro real do debate. O que está em jogo não é o tom da fala, e sim a distância entre expectativas e resultados. Entre cerimônias e entregas. Entre encontros e ações.
Portanto, eu acredito que a população espera menos palco e mais solução. A fala de Gleidson expôs esse contraste. E, gostem ou não do estilo, ele colocou sobre a mesa um tema que ninguém resolve com tapinha nas costas: prioridade administrativa.
Enquanto eventos continuam, filas crescem. Além disso, enquanto discursos seguem, demandas aumentam. E a gestão pública, diferente de solenidades, não permite pausa.










