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Zema defende privatizações e acusa políticos de manipular população, durante inauguração do gasoduto em Divinópolis

Zema defende privatizações e acusa políticos de manipular população, durante inauguração do gasoduto em Divinópolis

Zema apresenta críticas duras à classe política, defende privatizações e afirma que Minas vive “um círculo virtuoso”, enquanto reforça entregas e promete continuidade dos avanços.

Divinópolis recebeu, nesta segunda-feira (17/11), um dos discursos mais contundentes feitos pelo governador Romeu Zema durante seus dois mandatos. Embora o evento marcasse o ato institucional de inauguração do gasoduto, o pronunciamento ganhou outro tom.

Tornou-se um extenso balanço administrativo, um ataque frontal a adversários políticos e, ao mesmo tempo, uma reafirmação de que Minas, segundo ele, entrou definitivamente em “um círculo virtuoso”.

Zema falou por vários minutos, e cada trecho do discurso seguiu carregado de críticas, comparações, denúncias contra práticas políticas tradicionais e uma defesa enfática das privatizações em Minas Gerais.

Além disso, ele ampliou a narrativa sobre obras, detalhou investimentos e reforçou que entregará o Estado com o oposto do cenário que encontrou.

O ponto de partida: Zema inicia ataque a modelos antigos de gestão

O governador começou o discurso defendendo sua política de privatizações e afirmando que o Estado não pode sustentar investimentos que considera essenciais.

“O Estado de Minas hoje recebe dividendos da Copasa, recebe dividendos da CEMIG e, consequentemente, da GASMIG. O Estado deveria colocar dinheiro para universalizar o saneamento, que é o que um novo sócio na Copasa vai fazer, vai ter metas para cumprir, de saneamento, de fornecimento. Caso contrário, nós nunca vamos ter esse saneamento universalizado, como já deveríamos ter feito há muito tempo.”

Esse trecho mostra a linha de raciocínio central do governador, ele pretende reforçar a tese de que as empresas públicas não avançam porque o Estado não consegue investir o suficiente. E, justamente por isso, ele afirma que a privatização representaria o único caminho viável para universalizar o saneamento e modernizar serviços.

Recursos próprios

A Copasa possui recursos próprios e estrutura robusta para ampliar o saneamento sem depender de capital privado.

Diversos estudos independentes mostram que estatais de saneamento conseguem universalizar serviços quando governos priorizam investimentos.

Além disso, Zema não demonstra por que um Estado com contas “em dia”, como ele próprio afirma adiante, não poderia investir em expansão de saneamento. O governador também ignora que dividendos recebidos hoje pelo Estado deixam de existir após privatização, o que limita o orçamento futuro.

Imediatamente após essa explicação técnica, Zema ampliou a crítica e apontou diretamente para atores políticos que, segundo ele, utilizam empresas estatais como instrumento de barganha:

“O Brasil não avança porque nós temos aqui esses políticos que se aproveitam da ignorância das pessoas e ficam falando. Isso aqui é um patrimônio público. Vamos deixar bem claro, é público, mas é muito mais dos políticos, que fazem de tudo para ter algum benefício próprio ou eleitoral com essas empresas.”

Esse ataque revela o clima de disputa política em torno da Copasa, da Cemig e da Gasmig, especialmente no contexto das privatizações, que se tornaram um dos temas mais quentes da política mineira. O governador, como se vê, buscou se distanciar de práticas políticas tradicionais e posicionou sua gestão como um divisor de águas.

O governador atribui aos outros aquilo que adversários atribuem a ele: a tentativa de construir capital eleitoral com grandes obras e com o discurso de privatização. O ataque genérico (“esses políticos”) não apresenta nomes, fatos ou provas. O discurso coloca qualquer oposição como manipuladora, enquanto ele se posiciona como o único defensor do interesse público, uma estratégia retórica comum, mas pouco fundamentada.

Zema projeta o futuro: “colocar Minas na direção do futuro”

O governador também deixou claro que pretende eternizar sua gestão por meio de obras e planejamentos que ultrapassam o seu mandato. Ele afirmou.

“E o que nós queremos é um Estado que desenvolva. Então, a minha luta é essa, é colocar Minas na direção do futuro. E fico muito satisfeito de termos feito avanços expressivos na nossa gestão.”

Essa afirmação se conecta ao argumento que o governador utiliza desde o início do primeiro mandato, ele pretende reforçar que resolveu a crise fiscal deixada por gestões anteriores e que, por causa disso, conseguiu liberar obras históricas.

Para justificar essa visão otimista sobre a economia do Estado, Zema se apoiou em números de emprego e diversificação econômica. Ele usou um exemplo citado durante o evento para reforçar o argumento.

“A Mila disse aqui uma economia mais diversificada, cada vez menos dependente da mineração, uma economia que cresce acima da média Brasil, uma economia que já gerou um milhão de empregos com carteira assinada, mais do que muitos países do mundo nesse mesmo período. E isso me deixa muito satisfeito. Mas a minha gestão acaba e eu quero é que o futuro esteja garantido.”

Esse trecho funciona como uma virada narrativa dentro do discurso: Zema passa da crítica à política tradicional para a autopromoção de resultados. Além disso, ele tenta convencer a plateia de que a continuidade dos avanços depende, segundo ele, da manutenção da lógica administrativa que implantou.

Obras de grande porte: um pacote que Zema considera “irreversível”

A seguir, o governador passou a enumerar obras que classificou como históricas, usando cada exemplo para reforçar que sua gestão não funciona no terreno das promessas, e sim das entregas reais.

Primeiro, ele falou da Linha 2 do metrô de Belo Horizonte:

“A linha 2 do metrô, tantos governadores no passado anunciaram, ninguém fez, nem iniciaram. Eu que nunca anunciei, nunca prometi, como falei, está lá a obra em andamento, com recurso depositado, que só pode ser utilizado para aquela finalidade à medida que o cronograma da obra avançar.”

Em seguida, ele listou outras obras estruturais que, segundo ele, saíram do papel graças ao fato de o Estado ter recuperado sua capacidade de investir:

“A mesma coisa o rodoanel metropolitano, concedido com recurso depositado. A duplicação Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, Idem. A duplicação Belo Horizonte, Brumadinho.”

Essas obras compõem um conjunto de projetos que impactam diretamente a Região Metropolitana de Belo Horizonte e áreas estratégicas da economia mineira, fortalecendo a narrativa de governo estruturante e tecnicamente focado.

Não existe garantia

Depois disso, Zema reforçou que esses investimentos não dependem de mudanças políticas.

“Então, tudo isso vai acontecer nos próximos anos, independentemente de quem for eleito de temperatura política eleitoral econômica de Minas e do Brasil. É ter planejamento.”

Ao afirmar isso, ele tenta mostrar que sua gestão deixou o Estado “imunizado” contra sobressaltos políticos. E então reforça a agenda privatista.

“E uma CEMIG privatizada, uma COPASA privatizada significa o compromisso assumido pelo novo controlador de investir bilhões e bilhões para melhorar o serviço, para universalizar o saneamento.”

Neste ponto, o governador utiliza um termo repetido três vezes “bilhões e bilhões” para dar peso retórico, técnica frequentemente usada em discursos políticos para gerar impacto e reforçar grandeza de escala.

Não existe garantia de que empresas privatizadas investirão os valores mencionados sem repassar custos ao consumidor. Em outros Estados, tarifas subiram após privatizações. O governador também não menciona que a Cemig e a Copasa são lucrativas e geram receita para o Estado. Ao transferir controle, Minas perde patrimônio estratégico e retorno financeiro anual.

Debate sobre consulta popular e acusações de populismo

A controvérsia sobre plebiscito para privatização da Copasa cresceu nas últimas semanas, e Zema tratou de responder diretamente aos críticos.

“Bilhões e bilhões que o Estado não tem. O Estado hoje precisa receber dividendos dessas empresas para se manter e não colocar dinheiro como o novo controlador. E aí vem gente falando, está tirando o direito dos mineiros opinarem sobre o futuro da COPASA.”

Em seguida, veio um dos momentos mais ácidos do discurso.

“É um discurso bem populista. Agora, quando ela foi constituída, eles foram consultados? Os mineiros foram consultados?”

O fato de a população não ter sido consultada décadas atrás não invalida o direito atual de decidir sobre o futuro das empresas. Consultas públicas ampliam transparência e legitimidade democrática. O governador tenta desqualificar o debate ao chamá-lo de “populista”, enquanto ignora que plebiscito é ferramenta constitucional.

Zema ainda continuou, argumentando que decisões de Estado passam por representantes eleitos.

“Não foram. E acho que nós elegemos bons representantes para tomarem boas decisões. Nós não vamos consultar a população toda quando vai fazer um hospital ou desativar alguma coisa no Estado.”

E completou.

“Acho que nós temos boa gestão para tomarmos essas decisões. Então, as coisas precisam, sim, como o deputado Domingos Sávio disse aqui, ficarem mais claras. Tem muita gente querendo tirar proveito eleitoral em cima de situações que conseguem manipular as pessoas.”

Com esse trecho, Zema mira adversários diretos que usam a privatização como argumento eleitoral.

A defesa da entrega concreta: “nunca prometi, mas entreguei”

O governador então voltou ao tema das entregas:

“Mas, eu acredito, é em resultado a entrega. E aqui do meu lado nós estamos vendo. Nunca foi prometido e está aí a entrega.”

Depois dessa frase, ele reforçou a comparação entre modelos administrativos:

“Porque tem hoje uma gestão igual gestão privada, e não gestão de apadrinhamento.”

Esse ponto evidencia a principal marca discursiva de Zema: ele sempre compara sua administração à lógica empresarial, contrastando com modelos que chama de “políticos”.

O Estado que Zema afirma deixar para o sucessor

Zema então fez uma declaração de forte peso político.

“E quero encerrar aqui, deixando bem claro para todos os senhores aqui, que vou entregar para o meu sucessor um Estado que é o oposto do que eu recebi. Um Estado que tem as contas em dia hoje.”

O Estado mantém dívida bilionária, enfrenta limitações no orçamento, depende da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal e continua com salários de muitas categorias achatados. Embora Zema tenha equilibrado pagamentos, Minas não se encontra no cenário “oposto” ao de 2019. Há avanços, mas também fragilidades significativas.

E complementou.

“Todo mundo recebe pontualmente. Um Estado que em vez de ser um cemitério de obras inacabadas, abandonadas, como era sete anos atrás, é um Estado que se transformou num canteiro de obras. Quem anda por minas sabe disso, e como eu falei agora, está uma situação que é o inverso.”

Esse trecho possui um dos momentos retóricos mais fortes, pois resume todo o discurso, Zema pretende reforçar que pegou um Estado quebrado e entregará um Estado organizado, estruturado e em obras.

Prefeitos, repasses e o passado traumático

O governador retomou o tema dos repasses, criticou gestões do PT e relembrou dificuldades dos municípios mineiros:

“E isso só foi possível porque nós trabalhamos juntos com os nossos deputados federais, estaduais, que têm sido grandes parceiros, com os prefeitos que sofreram muito no passado. O prefeito aqui, que estava em 17 e 18, comeu o pão e a broa que o diabo amassou. Porque administrar uma prefeitura já é difícil.”

E então, intensificou:

“Sem os repasses do Estado, como aconteceu no governo PT, impossível. Tanto é que naquela ocasião tivemos prefeitos que renunciaram, que adoeceram e até que se suicidaram aqui em Minas Gerais.”

Esse trecho cria um contraste emocional forte entre o “antes” e o “depois”.

E finalizou a ideia:

“Mas hoje, o poder público municipal dos 853 prefeitos podem contar com o governo do Estado.”

Trabalho em equipe e continuidade

Zema concluiu com discurso de unidade administrativa:

“Nós estamos juntos, esse trabalho é em conjunto. E Minas vai continuar avançando, vai continuar prosperando. Porque, como eu disse, o trabalho foi feito, saímos de um círculo vicioso e entramos num círculo virtuoso.”

E finalizou:

“E isso foi um trabalho de equipe. Não acredito em ninguém que gosta de brilhar sozinho. Time que joga bem, ganha. Time que tem lá a estrela que quer brilhar sozinho, muitas vezes, não vai conseguir o melhor resultado.”

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