Do púlpito para as massas: como a música gospel se tornou uma potência nacional.
O crescimento vertiginoso da música gospel no Brasil é um reflexo direto da mudança demográfica e cultural do país. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam um aumento impressionante na população evangélica, que saltou de cerca de 15% nos anos 80 para mais de 30% atualmente.
Por conseguinte, a trilha sonora da fé se expandiu e transformou-se em um dos setores mais lucrativos e influentes da indústria cultural brasileira. A música, que antes ocupava um nicho, hoje movimenta bilhões de reais anualmente e compete de igual para igual com os grandes gêneros musicais do mercado secular.
A difusão do gênero se deu, em primeiro lugar, pela sua diversidade e adaptação. O gospel brasileiro é um caldeirão de ritmos, absorvendo o pop, o rock, o sertanejo universitário, a MPB e até o funk.
As plataformas digitais, como YouTube e Spotify, aceleraram esse processo, permitindo que artistas alcançassem milhões de lares e se conectassem com o público em uma escala sem precedentes.
“A internet pulverizou a música gospel, tirando-a das igrejas e levando-a para as telas do celular. Então, o acesso se democratizou e a mensagem chegou a pessoas que nunca pisaram em um templo”, afirma o analista de mercado musical Daniel Goulart.
Ascensão do gênero
A ascensão do gênero também deve-se, na maioria, a figuras que se tornaram verdadeiras celebridades nacionais. Aline Barros, por exemplo, é um ícone incontestável.
Com mais de 25 anos de carreira, ela construiu uma trajetória sólida, sendo pioneira no segmento pop-gospel e conquistando diversos prêmios, incluindo oito Latin Grammy Awards.
“Ela estabeleceu um padrão de qualidade e profissionalismo que elevou o nível da música evangélica no Brasil”, comenta o produtor musical Ricardo Oliveira.
Além disso, seu estilo, que combina baladas de adoração com canções mais vibrantes, a mantém relevante por gerações.
Thalles Roberto, por sua vez, representa uma vertente mais ousada e contemporânea. Ex-músico da banda de pop rock Jota Quest, ele trouxe uma nova sonoridade para o gospel, misturando rock, soul e R&B.
Sua voz potente e a abordagem pessoal de suas letras, que falam abertamente sobre suas lutas e superações, geraram uma legião de fãs, mas também muita controvérsia em relação a algumas de suas declarações.
“Ele popularizou um tipo de música gospel que é, ao mesmo tempo, comercial e intimista. Ademais, ele mostra que é possível fazer música cristã com uma identidade musical forte e autêntica”, avalia o crítico Sérgio Furtado.
Nova geração de artistas
Contudo, o sucesso da música gospel não se restringe a esses nomes. Uma nova geração de artistas, impulsionada pelas mídias sociais, ganha cada vez mais espaço.
Gabriela Rocha, com mais de 3,5 bilhões de visualizações no YouTube, se tornou a principal voz do movimento de “worship”, um estilo focado em canções de adoração.
Isadora Pompeo, por sua vez, alcança o público mais jovem no TikTok e no Instagram, provando a capacidade do gospel de se renovar.
E por fim, artistas como Leonardo Gonçalves, com um som mais sofisticado e influências do jazz e da MPB, mostram a maturidade e a diversidade do gênero, que se expande para nichos cada vez mais específicos.
O movimento musical, consequentemente, é um motor financeiro e cultural poderoso. Grandes eventos, como o Marcha para Jesus e festivais com dezenas de milhares de pessoas, solidificam a presença da música na esfera pública.
O gospel, portanto, não é apenas um estilo musical; ele se tornou um elemento central na identidade de milhões de brasileiros, um “fenômeno social que transborda dos templos e molda a cultura de um país”, nas palavras do sociólogo Fernando Santos. O futuro, com a contínua digitalização e a ascensão de novas vozes, aponta para uma expansão ainda maior.